Sunday, September 2, 2007

e na curva do meio-fio...

(...)Não, não havia chovido naquela tarde como em todas as outras da semana. Nem mesmo estava com aquela friagem típica da estação. Ao contrário, o sol brilhava como se fosse pleno verão. As ruas, todo o chão estava seco com alguma poeira que o vento fazia dançar em ritmo devagar... Os dois garotos ali, no meio da rua, com a bicicleta nova. O bairro era tranqüilo, nada havia de incomum encontrar crianças brincando nas ruas como se não existissem carros. Porém esses dois irmãos, um garoto e uma garota um pouco menor, chamavam a atenção dos vizinhos por nunca conversarem com ninguém nem brincarem junto às outras crianças. Mesmo entre eles, poucas palavras se podiam escutar. Apenas ficara nítido que era a primeira vez que aquela garotinha montava em uma bicicleta e estava já bastante suja e arranhada, com uma expressão de dor, cansaço e não parecia estar se divertindo.

O irmão, entretanto, sabia andar há bastante tempo e ficava apenas olhando e dizendo para ela não cair, não se fazer de lesma e andar mais rápido. Então, na curva duma pequena descida no meio-fio da garagem ao lado, a bicicleta passou em cima duma pedra perdendo o equilíbrio e provocando uma feia queda de lado com a pequena. Esta, então sangrando e toda esfolada com metade do corpo por baixo do pedal, chorou como um bebê e seu sangue foi-lhe subindo ao rosto, começou a engasgar, perdeu o fôlego, soluçando sem parar. Nem assim seu irmão a acudiu; ficou parado assistindo à cena e sorrindo como se até estivesse tirando algo de prazeroso do que via. Podia-se dizer que ele estava quase dando gargalhadas de ver sua irmã sangrando sem conseguir sair da bicicleta. Enfim, um casal que saía da padaria viu e ajudou a garota a se pôr de pé e com controle novamente. Ela nada disse, nem agradeceu nem olhou pra cara deles. Apenas saiu empurrando a bicicleta e pegou o caminho de volta para casa, assustada, soluçando e tentando esconder a cara de choro. O garoto foi logo em seguida, sorridente, chutando pedrinhas e cantarolando como se nada tivesse a ver com ele, parecia até estar num mundo distante do dela e do resto das pessoas também...(...)

1 comment:

Arthurius Maximus said...

Cheio de significado e uma mensagem intrínseca. A experiência nos torna mais fortes e confiantes.